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Estação Lunar

Quando a nave Apolo 11 estacionou na Lua, em 20 de julho de 1969, Neil Armstrong se tornou o mais famoso dos 12 tripulantes apenas porque precedeu o rolezinho da turma. Já o piloto-chefe da missão, Edwin “Buzz” Aldrin, marcou seu pioneirismo de outra forma: foi o primeiro homem a urinar na Lua. Era o animal demarcando território numa terra sem lei.


O grande salto da humanidade veio cheio de frases de efeito, mas, poeticamente falando, nada foi capaz de superar o ato de Buzz. Como é típico dos norte-americanos, fincaram bandeiras dizendo "viemos em paz por toda a humanidade", o mesmo slogan costumeiramente utilizado em incursões petrolíferas Planeta afora – e que, naquela época, representava as primeiras secreções do coito interrompido junto à União Soviética. Enquanto Neil Armstrong entrou para a História filosofando sobre o espaço entre o próprio umbigo o dedão do pé, Buzz, ao pisar em solo lunar, disse apenas: “Magnífico, magnífico. Bela desolação”. Foi assim que descreveu o encontro com aquele pequeno bibelô pendurado no céu que durante séculos instigou poetas, cientistas, hippies e toda estirpe de homo sapiens. Era magnífico, explicou ele, o tal graaande salto, mas não deixava de ser um cenário desolador aquela “pura superfície, sem nenhum tipo de vida”.


A despeito do sucesso da missão, os astronautas enfrentaram pungentes crises emocionais ao retornarem à Terra. A explicação, segundo Buzz, é simples: mais desafiador do que ir até a Lua é lidar com a humanidade – no caso dele, especialmente com o mundo vazio das celebridades. As angústias de Buzz se somaram a um histórico de depressão e alcoolismo. Mas, em vez de gastar a vida de bar em bar, ele enfiou a cara no trabalho até chegar ao ápice de sua carreira. E faz isso até hoje: passa os dias se dedicando à fundação ShareSpace, cujo objetivo é levar ao espaço o maior número de pessoas possível. Ele e uma dúzia de futurólogos prevêem que, dentro de 100 anos, um elevador levará as pessoas até o espaço. Já têm até preços, os danados: US$ 200. Inflação a conferir.


O mais irônico, porém, é a constatação de certa “desolação” com a Lua, em contraponto ao clamor pela conquista em si. Após tantos esforços monetários e físicos, reflexões e fantasias, o que mais causou comoção quando o homem chegou à Lua foi olhar para trás e contemplar a Terra. E mais burlesco ainda é que, enquanto Buzz chegava até a Lua fugindo da depressão e da boemia, milhões de sua raça se entorpeciam nas esquinas das cidades, afogando suas angústias e a difícil tarefa de lidar com o ser humano. No fim das contas, constatamos que o homem foi até a Lua para descobrir o que qualquer poeta já havia traduzido nos guardanapos da vida.


Mas tenho fé no grande salto. Um dia, a turma vai dar um pulinho ali na Lua para passar o fim de semana. Pegarão um táxi – ou um elevador – rumo à Estação Lunar, um botequim, daqueles mais vagabundos. No caminho, o piloto contará suas mais tresloucadas aventuras, entre um gole e outro após ultrapassarem os limites legais de 100 km de altitude. Chegando ao destino, encontrarão ali, no lado negro da Lua, um traficante de gravidade e darão um tapa, só pra dichavar. Farão um lual, mijarão na estátua de Buzz e beberão todas até flutuar. Não posso nem imaginar as belíssimas canções em louvor ao planetinha. Deve ser o sonho de qualquer aluado: ficar lá, no mundo da lua, olhando estrelas sem pôr os pés no chão.


A mim, que não sou poeta e não enxergo sob a sola dos pés, resta aguardar a fila do elevador – e a descoberta do elixir da mocidade. Vai ver, de longe é mesmo mais interessante.





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