

O homem-cigarra
Escorado sobre o balcão da portaria do edifício, Maneco Lisberto vigiava os ponteiros do relógio quando ouviu um grito; e uma trovoada de móveis, e um alarido de vidraças até uma voz se rasgar por socorro. O porteiro pensou logo em ladrão, mas no caminho já imaginava o que o aguardava. – Calma, dona, tá tudo bem. É só um bichinho… – Bichinho?! Isso aí é um monstro nojento! Toda primavera é essa invasão insuportável! – Que nojento, dona. Sabe alcaparra? Se você refogar as ciga


O canto do Carcará
Quando descobriu a chegada do novo mundo, Jacobson vigiava passarinhos na esquina da quermesse de Tonico em Tuparetama, nos confins de Pernambuco. Não por lirismo ou vadiagem, mas por sede e medo. Os arremates do Carcará indicavam dias de chuva, ensinavam os antigos, mas era preciso estar atento ao canto enlarguecido anunciando mau agouro. Numa dessas, o bicho assanhou-se nos fundos da venda e atraiu a atenção de Jacobson para um cartaz da ESOL Engenharia, que convocava mão d